Friday, January 30, 2009

Curta auto-biografia de um homem feliz

Olho para trás. Olho para a frente.
Não festejei o aniversário mas ontem ao adormecer ouvi a Mariana dizer o número 29. Horrível número.
A contagem dos números não me interessa.
A passagem de ano, o aniversário, contagens irrelevantes.

Eu faço anos quando o fado é cantado. Daqueles espaços de tempo que merecem ser contados.

1. Cheguei à maioridade, e lembro-me desta tomada de consciência como se fosse hoje, no dia em que fiz 17 anos. A 22 de Janeiro de 1997 fez-se luz e fiquei sozinho para sempre.

Antes disto não existe, antes dos 17 anos o agora não existe. Antes dos 17 anos é uma memória, é um passado em si. Aconteceu passado. Como se tivesse nascido aqui e tivesse nascido com memória. Depois deste ponto, há uma memória de um presente. Há um eu que recorda, consciente na medida em que recorda a consciência e recorda a própria recordação.

2. De 1997 a 2002, a Faculdade de Engenharia moldou a minha primeira personalidade dissidente (não minha). Tempos tristes que serviram apenas para agora me poder divertir com empregos fáceis e divertidos (um luxo muito raro para quase todos). Pago, com a quadratura da Engenharia, a facilidade de emprego. O meu eu foi vendido!

3. A idade adulta veio com a emigração em 2002: a descoberta da minha solidão de mãos dadas com a descoberta da minha felicidade. Aqui, eu só, sou eu feliz. O abandono da monotonia portuguesa da infância. A quadratura do sistema interno deixa de suportar uma realidade demasiado flexível. França 2002 e Suíça 2006 são a mesma coisa.

4. O escape viajante de 2007 fechou a minha vida de jovem adulto. Grito, diferença, esquizofrenia, tristeza: o confronto hipersensível com a realidade não significante (como que caído num filme do Paradjanov). Na Primavera de 21 de Março de 2008 (Londres) faço 30 anos.

5. A 30 de Março de 2008 encontro quem me concerta da explosão e me faz voltar à existência.

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