Thursday, July 30, 2009

mecanosfera

(250 jours aprés avoir acheté Les Milles Plateaux, este post draft, errado, inconsistente, existente, explicativo, pouco exploratório saiu com alguns traços Deleuzianos. Deleuze que, de tão difícil, nem consigo repetir, como se fosse um poema impossível de decorar, este post é um "oh mar e mar, quantos choros são lágrimas de par em par" de um detalhe do Mil Plateaux)

A teoria de sistemas, por principio holista, prefere os organismos aos mecanismos. Eu não.
O ser organismo é tão negativo como o ser sujeito ou o ser significado: os três grandes inimigos do corpo-sem-orgãos do Artaud que o Deleuze usa. Mecanosfera.

Esta é uma das lições mais importantes da filosofia secXX que tenho lido: a visão mecanicista que retira o atributo "vontade" do sistema, isto é, que analisa o sistema como um mecanismo sem vontade.
Alguns exemplos fáceis disto são as afirmações que sempre fazemos sobre "os ricos" ou "os professores" ou "o estado" e a facilidade com que atribuímos vontade a essas entidades. A ideia é simples: estas entidades não têm vontade, apenas existe uma miríade de micro mecanismos que levam a que a entidade como um todo se comporte de determinada forma. Micropolitics.
Aqui, sobrevalorizar o mecanismo é simplesmente afirmar o reducionismo: a velha soma das partes que dá o todo.
Aqui, dizemos que não é a soma das partes que forma o todo mas que são as partes e os seus mecanismos que formam o todo. Partes estas que são formadas por outras partes e outros mecanismos. Sub-mecanismos estes que interagem com outros mecanismos, de outros níveis. Nunca organismos (todos que são mais do que somas das partes).
A negação da entidade Luís ou entidade estado. E a afirmação dos mecanismos que os compõem. A afirmação de mecanismos sinápticos, ou mecanismos sociais, ou mecanismos burocráticos, ou mecanismos electro-quimicos, ou mecanismos de circulação de fluidos. A afirmação do mecanismo marcha, ou do mecanismo fronteira mim/mundo.

Uma mecanosfera ou simplesmente mecanismos sem vontade. Mecanismos sem vontade porque não são organismos.
É que dizer que os mecanismos não têm vontade, não organismos, equivale também a dizer que, por exemplo, não há organismo/entidade Luís e que os mecanismos que compõem a entidade Luís não têm vontade. Neste caso haveria apenas uma simples ilusão de que os mecanismos de subjectivação (que formam o sujeito Luís) têm vontade, ou objectivo. Não, são apenas mecanismos. Esses mecanismos são essa função. Os mecanismos não têm vontade, os mecanismos SÃO essa vontade. É algo que os compõe.

Se eu Luís te pedir muito para não leres este post, não é o organismo Luís a ter vontade, são os mecanismos que me compõem a agir naturalmente. Eu sou esse pedido. Que se liga ao estruturalismo do "Eu sou o meu discurso" e do "eu não sou a minha voz, sou a voz do sistema" que liga ao "eu não sou, o sistema é" que se trocarmos sistema por mecanismo (trocar estrutura por função, organismo por mecanismo) liga ao "eu não sou, os mecanismos que me compõe são".
Por exemplo, eu (organismo inexistente) sou um subproduto do mecanismo de reprodução dos meus genes OU, invertendo, o mecanismo da fala de um jornalista tem como subproduto a comunicação social (organismo inexistente).

Isto tudo para preludiar esta ideia simples do Bourdieu (primeiros dois minutos):

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